sábado, 27 de setembro de 2008

Hoje eu morri um pouquinho

Hoje uma parte da minha vida me deixou. Fiquei manca. Perdi um braço, uma perna e um pedaço grande do meu coração. Hoje perdi a Luana. Minha amiga-irmã.

Essa vida louca nos afastou fisicamente tantas vezes. Tantas vezes eu pensei nela. Lembrei das nossas tardes ouvindo Rita Lee, comendo chocolate e sonhando com os nossos príncipes encantados, que só surgiriam nas nossas vidas dez anos depois.

Lembrei das nossas inseguranças e das nossas seguranças. Da força que uma dava para outra, do carinho. Ela me chamava de cafezinho. Dizia que não podia viver sem duas coisas, café e eu. Tantas histórias e tão bonitas. Tanto amor, tanto amor.

Vivemos muito, curtimos muito. Agora era a hora da colheita. Não entendo como pode, agora, na calmaria, vir essa doença e arrancar a vida dela. Tirar ela do mundo sem ter tido tempo sequer de ser mãe.

A dor é tão grande que rasga. Rasga o peito, a alma. E é raiva, raiva de travar os dentes. Raiva de não ter estado mais com ela. Raiva de não ter ligado semana passada. Raiva de não ter dito, uma última vez que a amava. Raiva de mim e do mundo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Primeiro diálogo em alemão - pagação de sapo


Oi gente,
bem que eu gostaria de dizer que quem pagou o sapo fui eu, mas na verdade me pagaram um sapo gigante. rs O pior é que foi tudo em alemão, ficando ainda mais difícil fazer algo mais que engolir o danado. Minha parte do diálogo foi "Ja" "Ja" "Tut mir leid"(desculpe). Estou com vergonha até agora. Sabe aquela vergonha que dói o estômago. Aquela que trava os dentes. Aquela que deixa a face vermelha. É ela mesmo.

Acontece que desde que cheguei aqui, neste apartamento (quatro meses) eu lavo a minha roupa no dia certo, no horário certo e do jeito certo, para não dar motivo de reclamação para esses "suíços chatos". rs Acontece que nem eles são assim tão chatos e nem eu sou assim tão correta.

Como não sei ler (aqui sou uma semi-analfabeta), não tinha entendido as regras da lavagem. Eu achava que podia lavar a roupa das 7h da matina até às 18, no primeiro e no segundo dia de lavagem (quem acompanha sabe que os dois dias são seguitos e acontecem apenas uma vez por mês). Por isso mesmo, não me preocupava em entregar a porcaria da chave para a vizinha (velhinha de humor azedo) às 18h do meu último dia. Afinal a velha só poderia usar a máquina no outro dia às 7h. Ledo engano, ela pode usar a máquina das 18h às 21 do dia em que eu entrego a chave. Por causa desses 3 horas que ela estava perdendo nos últimos 4 meses e também porque não sabia que tinha que varrer a sala de secagem (apelidada por mim de quarto dos horrores), levei a maior pagada de sapo da minha vida. Pelo menos eu acho, já que só desta vez eu não consegui me defender como gostaria. A parte boa é que eu entendi cada palavrinha, a ruim é que acho que não vou conseguir nem dormir hoje de tanta raiva e vergonha. Vou tentar ser mais compreensiva com a minha filha porque agora eu sei como ela se sente impotente quando eu dou um sabão nela.

Um abraço,
Carol

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Arranjei um pediatra surdo

Oi gente,
cada dia é uma aventura neste caminho que a gente escolheu. Desde que cheguei aqui, o meu entendimento do inglês melhorou muito (posso dizer que entendo 98% do que as pessoas dizem), por outro lado, o falar, que já estava enferrujado no Brasil, aqui ficou ainda mais complicado. Acabo metendo sempre uma ou outra palavra de alemão no meio das frases. Uma comédia. Isso faz com que eu adie tudo. Só de pensar que tenho que falar com alguém em alguma língua que não seja o português, eu já entro em pânico.

Tudo isso foi para explicar pq a Leila ainda não tinha pediatra na Suíça. rs Fui a um italiano que não pode aceitá-la por que já tinha crianças demais. Tomei coragem e liguei para um monte... só mensagens em alemão. Até que um atendeu. Falei assim "olha, minha filha ainda não tem pediatra aqui em Zurique e eu queria fazer o controle das vacinas". Ele disse "Desculpe, mas eu não entendi". Claro que tudo isso em inglês. rs Falei novamente, já me sentindo a pior de todas as falantes. rs Dessa vez pareceu que ele tinha entendido. Daí ele perguntou se eu queria ir naquele momento ou no dia seguinte. Fiquei muito feliz. Finalmente alguém que podia ficar com a Leila. Marquei para o dia seguinte.

Chego lá e a sala estava fechada. Bati na porta e nada. Fui a um Tee Room que tem ao lado e liguei para ele de lá (celular sem crédito). "Chego em dez minutos Frau Pires". Dez minutos e chega o dito. Quase saí correndo. rs Ele deve estar bem próximo aos 90 anos e usa um aparelho de surdez do tempo do ronca, enooooooooorme e para fora da orelha. Nessa hora eu entendi que não era o meu inglês que estava péssimo, era a audição do homem. Consultório grande, bonito, bem cuidado. Teve ter sido bem movimentado nos tempos de ouro. rs Daí ele olhou para a minha cara e falou: "Pq a senhora está aqui". Será o benedito que o Dr. não tinha entendido o que eu falei? E lá vou eu novamente, contar toda a história. Feito isso, ele viu as vacinas e disse que aqui eles dão duas doses da de Sarampo. Demos a vacina lá mesmo, no consultório. O homem tremia mais que vara verde. rs Metade da vacina veio no meu olho. Acho que estou vacinada também.

E agora? E agora que o homem é velho, é surdo e tem tremelique, mas eu vou ficar com ele mesmo até conseguir me comunicar melhor em alemão. Depois escolho outro. Aqui o pediatra raramente atende o telefone e esse está sempre a disposição. rs

Um abraço,
Carol

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Viagem ao Brasil

Oi gente,
eu andava meio desanimada e por isso não vim aqui com freqüência. A minha viagem ao Brasil foi única e exclusivamente para ver a minha querida amiga Luana. Fiquei com ela a maior parte do tempo e o que sobrou curti minha mamãe que também estava lá dando uma força. Enfim, quando a vi juro que não reconheci, mas depois de uns minutinhos de conversa eu vi que aquela era sim a minha irmã de coração. Consegui passar por cima da aparência e da situação em que ela está, até pq ela própria continua com o mesmo ânimo, senso de humor e a meiguice de sempre. Nós ficamos noites e mais noites, como duas adolescentes, falando da vida. rs Gostoso demais, mas também bastante desgastante. Um dia para ir, cinco dias lá, mais um dia para voltar. Cansativo. Enfim, valeu a pena demais. Ela ficou feliz e eu também. Voltei recarregada, com certeza que ela terá vitória nesta guerra.

Um abraço,
Carol